Apostila Introdução ao Sanscrito + Entrega incluída pelos correios
(contendo 105 paginas)

O sânscrito é a língua dos Vedas, as escrituras da Índia antiga que abrangem praticamente todas as facetas do saber humano. A palavra veda, aliás, significa conhecimento. No mundo moderno usamos o termo ciência para indicar este tipo de conhecimento minucioso no qual o progresso humano se baseia. Para os sábios da antiga Índia, contudo, a palavra veda tinha um sentido ainda mais profundo do que o termo ciência tem para nós hoje em dia. Isto é porque, naquele tempo, a pesquisa científica não era restrita aos fenômenos materiais observáveis pelos nossos sentidos. Além do mais, a definição de progresso humano não se limitava à exploração maciça da natureza através de recursos tecnológicos avançados.
Nos tempos védicos, o foco primário da ciência era o eterno, não o temporário; progresso humano significava purificar nossa consciência culminando com a libertação da alma do cativeiro material. A linguagem sânscrita é, portanto, um instrumento valioso que nos permite o acesso a esta ampla sabedoria milenar, quer estejamos interessados em yoga, ayurveda, filosofia, astrologia, arquitetura, linguística etc.
Como o próprio nome indica, o sânscrito é um instrumento refinado, sem comparação com nenhum outro idioma no mundo. Sua gramática é precisa, seu vocabulário vasto, sua fonética harmoniosa. Mas a perfeição linguística do sânscrito não é o único motivo pelo qual ele permaneceu vivo por tantos milênios. O efeito sutil e profundo que a vibração sonora do sânscrito exerce na consciência humana é formidável, e aqui gostaria de citar as palavras de nosso mestre e bem-querente de longa data, Prof. Dr. Lúcio Valera (Lokasäkñi däsa) em sua apostila “Sânscrito aplicado”:
Mera exatidão e precisão não bastariam para isso, pois a matemática, que é uma linguagem precisa e utilizada uniformemente pela ciência, excita o cérebro, mas não o coração. Por outro lado, o sânscrito, assim como a música, tem o poder de tocar no coração. O que há de extraordinário no sânscrito é que ele oferece a todos acesso direto a um plano superior – onde tanto a matemática como a música, o cérebro como o coração, a razão como a intuição, a ciência e a religião – tornam-se unos. [...] O sânscrito é a linguagem dos mantras, palavras que têm o poder de remover os condicionamentos da mente por estarem em sintonia sutil e direta com a harmonia invisível e arquetípica da criação.
Espero que o material aqui apresentado possa ser útil para orientar você em seus primeiros passos nessa fascinante linguagem que é o sânscrito!
Oà Tat Sat
Gustavo H. P. Moura (Gurusevänanda däsa)
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FONÉTICA E ESCRITA:
Pronúncia e métrica são dois fatores fundamentais no aprendizado do sânscrito pois nos permitem recitar apropriadamente os mantras – cuja mera vibração sonora pode produzir efeitos extraordinários quando adequadamente entoados. Portanto, som e ritmo serão nosso foco principal neste primeiro módulo, juntamente com o aprendizado da escrita Devanāgarī, cujo domínio também é fundamental para todo estudante sério do sânscrito.
Uma das características marcantes desse idioma é a precisa ordenação fonética de seu alfabeto, que é composto de 47 caracteres logicamente dispostos, cada um representando um fonema exclusivamente. Assim, mesmo tendo um maior número de caracteres comparado ao nosso alfabeto latino, a escrita sânscrita é mais fácil de se aprender do que pode parecer à primeira vista. Compreender claramente esse padrão de ordenação, que indica a zona de articulação de cada fonema, é chave para uma boa pronúncia.
A sequência dos caracteres dentro do alfabeto é definida com base nas seguintes categorias e critérios:
Categorias principais:
• Vogais (do latim vocabile: pronunciável) são os sons emitidos quando o ar passa livremente pela cavidade bucal. Elas são soantes, ou seja, podem ser pronunciadas independentemente.
• Consoantes são os sons produzidos quando o ar é bloqueado ou restrito em algum ponto de sua trajetória pela cavidade bucal. Como o próprio nome indica, as consoantes só podem ser articuladas quando combinadas a uma vogal.
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CRITÉRIOS FONÉTICOS:
• Duração: Uma vogal é classificada como breve ou longa dependendo da duração de sua pronúncia.
• Sonoridade: Uma letra é considerada sonora quando é necessário usar as cordas vocais para pronunciá-la e considerada surda quando não é necessário usar as cordas vocais. Todas as vogais são sonoras.
• Aspiração: Uma consoante é considerada aspirada quando é necessário expelir o ar com mais força para pronunciá-la e considerada não aspirada quando o ar é expelido suavemente.
• Zona de articulação: é a região da cavidade bucal predominantemente usada para pronunciar um fonema.
o Um fonema é gutural se articulado na garganta.
o Um fonema é palatal se articulado com a língua contra o palato.
o Um fonema é retroflexo se articulado com a ponta da língua no palato mole.
o Um fonema é dental se articulado com a língua atrás dos dentes superiores.
o Um fonema é labial se produzido pelo contato dos lábios.
• Modo de articulação: O grupo das consoantes pode ser subdividido da seguinte forma:
o Oclusivas: quando o som é produzido por um bloqueio do ar durante a sua pronúncia. Exemplos: ka (oclusão gutural); ba (oclusão labial).
o Nasais: quando a cavidade nasal é usada para pronunciá-las. Ex.: na, ña, etc.
o Semivogais: quando o seu som é produzido por um estreitamento (sem oclusão) da passagem do ar. Embora produzam sons que se aproximam ao de alguma vogal, as semivogais atuam como consoantes no sentido de que não podem ser pronunciadas independentemente. Ex.: ya, ra, la, va.
o Sibilantes: quando o som é produzido com a língua estreitando a passagem do ar em três regiões possíveis: contra os dentes superiores, contra o palato duro e contra o palato mole. Ex.: sa, śa, ṣa.
o Gutural aspirada: quando a passagem do ar é estreitada na garganta (ha).

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